Ela, idosa, estava sendo cuidada nos aposentos do hospital há uma semana. Já era hora de retornar ao seu lar e respirar o cheiro da casa que sempre cuidou. Ainda estava com dificuldades de se locomover e, por isso, se encontrava deitada no seu sofá, ouvindo sua canção preferida. Sua filha, a do meio, ficou cuidando do seu pai por esses dias em que ela se ausentara. Ela sabia que ele estava sentindo falta daquela companhia de tanto e longos anos. Preparou esse reencontro e, singelamente, foi conduzindo-o até a sala. Ainda antes de vê-la, ele repetia uma mesma frase: – Cadê minha menina! Minha menina! E no reencontro, um abraço. Um abraço que mais parecia um encaixe de uma parte que faltava. Eu chorei.
Ainda me dá nó na garganta ao relembrar desta cena que vi. Um senhor com seus oitenta e poucos anos e com uma ansiedade de um jovem rapaz que vai ao encontro de sua amada. Chorei, e sim, sou dessas que chora em casamentos. Mas não pela amizade dos noivos ou pela beleza das canções, mas pela entrega que acontece diante do Altar. Eu não consigo verbalizar o significado que isso tem. É imenso. Um tanto profundo demais para caber aqui. Mas o fato é que me emocionei ao ouvir aquela frase: – Minha menina! Ele não se referia a sua netinha nem a filha caçula. Era assim que ele chamava sua esposa, certamente com seus oitenta e poucos anos também, talvez um pouco mais jovem, setenta e alguma coisa.
O nó na garganta é pelo fato de testemunhar que aquele senhor ainda a via como a jovem que, anos atrás, comprometia-se a ser um com ele. Com certeza essa jornada não foi sempre um mar de rosas, como dizem. Mas me parecia ter sido uma caminhada de verdades, de propósitos comuns, amadurecimento mútuo; muito mais além que aparência, corpo perfeito ou sedução. Se assim fosse, ali só restaria um corpo se desfazendo, a pele perfeita dando lugar às rugas e a falta de brilho. Eu nunca duvidei disso, mas ali tive a certeza do quanto vale se escolher pela alma, o quanto vale se decidir por propósitos e não por qualquer outra razão. E o quão belo é chegar ao fim da vida e ainda ser vista com a idade do coração.
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