Foto de Dewa Prabawa

A cachoeira

Lembro-me deste fato como se fosse ontem. Fazia sol e íamos à cachoeira, parecia dia de festa. Fomos, eu e mais uma “penca” de crianças. A vista era linda, empolgante; aquelas águas correntes entre as pedras. Uma pena, pois nessas não dava para nadar; eram rasas demais. Uma ideia surgiu, alguém conhecia um lado mais fundo. Adrenalina subiu. Chegamos. Uma emoção subia no peito. Aquele lago imenso parecia estar nos esperando, era escuro, uma água turva, mal dava para ver até onde ia. Havia um ponto alto das pedras que permitia os saltos, todas aquelas crianças subindo e eu logo atrás. Fiquei por última, gostava de ver cada pulo; parecia fácil, não tive medo. Minha prima em minha frente pulou. Eu era a próxima, fecho os olhos, pego impulso e vou. Pulei. Caí na água, mas cadê o chão?!. Não sentia. Nesta hora, pavor. Descobri que não sabia nadar. Para o fundo a água me puxava, eu lutava, era desesperador. Com as mãos para cima, subia procurando o ar. Já quase me entregando, na última subida eu ouvi alguém falar: – Priiiiima?? –  E meu braço ela conseguiu segurar. Já não estava só naquele momento. Um anjo ela foi para mim, nunca me esqueci daquela vozinha ainda de criança que, olhando para trás, tão corajosa quis me cuidar.

Hoje já não me arrisco tanto assim. Gosto de quando tem profundidade, não dá para ser raso. É bom quando você pula e, por inteiro, você se banha, é preenchido. Mas o inseguro já me causa estranheza, não tenho tanta certeza se quero pular. Gosto da transparência, dessas que dá para confiar. Águas que num salto, você vai sem medo de se afogar.  Naquele dia eu me afoguei, poderia não mais estar aqui. Havia alguém que me puxou, sorte a minha. Há quem se arrisque nesses mergulhos desconhecidos, é empolgante às vezes, confesso; como foi quando eu vi todo aquele lago. Mas a verdade é que quem pula de cabeça, sem conhecer o fundo, sem enxergar o que há por trás de toda aquela imensidão, por vezes se machuca e corre um grande risco permanecer ali, buscando o ar, uma voz, uma mão. É importante aprender a nadar, mas mais importante ainda é sermos águas cristalinas, para quando alguém quiser pular, saber se recua ou, sem medo, ganha impulso para saltar.


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