Foto de Dewa Prabawa

A fila

Estava aqui me lembrando de ontem, precisei ir ao banco resolver umas burocracias da minha conta. Estava cheio, fui sem analisar a hora de pico. Fila que não se enxerga o início. Desânimo, impaciência. Tinha um mundo para resolver fora dali e eu plantada. Eu era a última até aquele momento. Não sabia se esperava ou dava pé. Olho a minha frente e há uma multidão aguardando também. Por hora, a inveja daquele ali, primeirinho da fila, vem ao meu encontro. Quanto tempo eu não ganharia se trocássemos de lugar. Espero.

Os primeiros minutos, um tédio. Abaixo a cabeça e resolvo visualizar as pendências que eu ainda tinha que resolver e, aos poucos começo a explorar mais esse tempo parada. Vi algumas coisas que na correria eu, certamente, não teria considerado. Faço algumas anotações e começo a gostar desse “ócio”. Fico concentrada, algumas coisas começam a fazer sentido e a pressa parece ter cessado. Analiso um pouco o ambiente e observo as pessoas que ali se encontram. Todas na mesma situação que eu, esperando sua vez. Algumas quase arrancando os pés de tanto balançar, outras com o semblante irritado, imagino que era como eu estava quando cheguei. Outras lendo seus livros, várias no amado telefone. Ah, sem contar as que reclamam em voz alta para os atendentes escutarem, meras alfinetadas.

Todos ali foram o último em um determinado momento daquela espera. Houve àqueles que se precaveram e foram em um horário estratégico, sábios. Mas a maioria foi sem cogitar a possibilidade de ter de aguardar por muitas horas. Não é justo querer a vaga do outro por estar em primeiro lugar, ele também teve seu tempo de espera. Que mérito teria eu em ocupar o lugar que não me pertencia? Exceto quando, por sorte ou bondade de alguém, a minha vez é facilitada, de maneira digna, claro. A espera é cansativa, muitas vezes tediante; perigosa também, pois pode nos fazer desistir e deixar para lá. E também é chata quando se tem pessoas só reclamando e causando um auê, parece que pega na gente. Mas o fato é que agora eu sou a próxima e quando olho para trás vejo quantas chegaram depois de mim, o último lugar já não é meu e tudo parece seguir uma ordem e a espera é o fio que liga os pontos.


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