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Mãos dadas


Enquanto eu arrumava uns papéis em minha mesa, encontrei uma anotação que você tinha feito na minha agenda. Dizia que eu precisava ser mais “durona” com as pessoas. Talvez. Mas isso me fez lembrar do quanto você mudou. Quando te conheci eu quase não conseguia te alcançar, não em estatura porque isso realmente seria impossível. Mas eu não alcançava quem você era de verdade. Você se escondia de mim e de você mesmo.
Não era mal humorado, brincava até de mais. Mas eu não dialogava com aquele outro que se fechava em assuntos mais sérios e particulares. Você dizia que eu fazia parte mas não entregava sua outra metade, deixava-me subentender. Eu compreendia; certas coisas são difíceis de dizer, e as marcas que a vida traz, são poucos os que precisam saber. E não eram só feridas. Havia um medo. Incerto. Que se não desse certo o fracasso lhe restaria. Bobagem essa, você não estava só, era só falar que eu já estava ali a te cuidar. Agora eu entendia quando dizia que eu precisava endurecer, ser vulnerável era sinal de fraqueza e na incerteza, decidia por se recolher. Quando percebi que essa era sua batalha interna e, eu, quase nada podia fazer, tratei logo de juntar as minhas mãos e, em oração, pedia por você.
Nunca tive a intenção de invadir seu espaço, exceto no abraço, que não tinha negociação. Quando menino, o choro era esperado, do joelho ralado ou da havaiana na mão. Agora homem feito, segurava de todo jeito, o choro que ecoava no coração. Eu nunca vou me esquecer do dia em que, por completo, eu conheci você. Um semblante menos fechado, olhos inquietos e a voz embargada. Você não estava sendo fraco, pelo contrário. Você só queria ser cuidado, mas tinha medo de ser amado. Das pessoas que passaram, evitava o cuidado, com receio de se envolver. Ali você entendeu, que meu jeito “bobo” de ser, era apenas a tentativa de derrubar o seu. Imagina só, quanto tempo você perdeu, querendo ser mais forte do que deveria ser. Eu me encanto pela capacidade que você tem de, agora, como homem que chora, com minhas mãos que oram, juntar-se a mim em amor a Deus.


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