Foto de Flora Westbrook

O regador

Um dia desses deparei-me com uma situação engraçada no serviço e que me fez refletir sobre as nossas relações e interações que temos em nosso meio de convivência.
Enquanto limpava o escritório, observei que a moça da limpeza regava uma planta que fica na sala de espera e, vendo isso, perguntei o que ela fazia já que a planta era daquelas artificiais; a resposta foi que ela regava todas as vezes que limpava lá e na hora começamos a rir, pois ela não sabia que não era de verdade por ser tão semelhante a uma verdadeira.


Passado esse episódio, sempre me vinha à cabeça essa situação por ser tão mais comum em nosso dia a dia. O que temos regado em nossos dias? As nossas relações? Nosso trabalho? Amizades? Será que temos a certeza de que estamos regando algo verdadeiro e que crescerá/frutificará ou estamos colocando nossos esforços em algo artificial?
Regar algo “artificial” não me parece distante, vejo constantemente pessoas nessa situação, algumas como essa moça, que regava a planta do escritório por acreditar que era real, mas vejo ainda mais pessoas que querem acreditar que aquilo(“artificial”) lhes trará frutos futuramente. É um engano, é um esforço dispendido sem retorno algum. Quantas relações se mantêm dessa maneira e acabam por nenhuma das partes se entregarem de verdade e viverem uma felicidade instantânea, quantos empregos ocupados por comodismo e nenhum entusiasmo de que se esteja fazendo algo que verdadeiramente faça sentido, quantas amizades mantidas somente por conveniência e não por fazerem parte da história.

Aquele dia me fez pensar que as nossas interações com o mundo, com as pessoas não pode ser desperdiçada. Somos carne e osso, mais ainda sentimento, coração. Era linda aquela planta, vistosa, e só. Em um mundo tão cheio de insignificância, de cores vivas porém mortas, de perfeições ocas, eu prefiro me deleitar no que floresce, no que cresce, prefiro apreciar a bravura da semente que se deforma mas que, em outra forma, atrai o lindo pousar do beija-flor.


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